Instituída pela Organização Mundial de Saúde em 1987, data tem objetivo de alertar a população sobre as doenças e mortes evitáveis relacionadas ao tabagismo ativo e passivo
Quando um cigarro é aceso, uma parte da fumaça é inalada pelo usuário, enquanto dois terços dela são liberados no ambiente. Nesse momento, não apenas o fumante está exposto aos riscos das substâncias tóxicas inaladas, mas também aqueles ao seu redor, conhecidos como fumantes passivos. A exposição involuntária à fumaça do tabaco pode causar desde reações alérgicas até doenças mais graves, como o câncer de pulmão. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o tabagismo passivo é a terceira maior causa de mortes evitáveis no mundo, ficando atrás apenas do tabagismo ativo e do consumo excessivo de álcool.
A inalação involuntária da fumaça, que se difunde no ambiente, não apenas gera desconforto devido ao cheiro característico da amônia e do alcatrão, mas também oferece fortes riscos. “A longo prazo, a exposição aumenta a incidência de doenças cardíacas coronarianas em 25% e deixa o organismo 30% mais suscetível ao câncer de pulmão. Crianças e bebês são particularmente mais afetados pelo tabagismo passivo, com chance aumentada de desenvolver doenças respiratórias, do ouvido médio e a síndrome da morte súbita infantil”, explica a oncologista clínica Carla Nakata, que atua na Oncomed, em Cuiabá (MT).
O tabaco utilizado na produção dos cigarros advém da planta Nicotiana tabacum, que é processada na indústria, com a adição de substâncias químicas. Quando entra em processo de combustão, a fumaça que sai da ponta do cigarro carrega mais de sete mil compostos e substâncias, que se dividem em duas fases: a particulada e a gasosa. A fase gasosa é composta por monóxido de carbono, amônia e cetonas, entre outros. Já a particulada contém nicotina e alcatrão, sendo este último um composto de mais de 40 substâncias comprovadamente cancerígenas, entre elas o arsênio, naftalina e até fósforo P4/P6, elementos usados em veneno para matar rato, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA).
“Quando o paciente é diagnosticado com câncer, é importante sabermos se o hábito de fumar é presente na vida dele ou de familiares que convivem na mesma casa. Como não existe nível seguro de exposição ao tabaco, a recomendação imediata é cessar o uso. Já no caso do tabagismo passivo, é recomendado que o paciente não permaneça nos mesmos ambientes onde a fumaça é dispersada”, afirma Carla
Abstinência – Reconhecido como uma doença crônica causada pela dependência à nicotina, semelhante ao vício em drogas como heroína ou cocaína, o tabagismo é classificado como um transtorno mental e de comportamento, segundo a Décima Revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-10). O grande obstáculo para quem quer parar de fumar é a chamada síndrome da abstinência, que se inicia logo no primeiro dia da interrupção do uso. Dor de cabeça, irritabilidade, dificuldade de concentração, ansiedade e alteração do sono são alguns dos sintomas.
“A nicotina afeta diretamente o sistema nervoso central, estimulando a produção exagerada de dopamina, um dos neurotransmissores associados ao prazer. Com o tempo, o cérebro se acostuma a esses níveis elevados, e durante a abstinência, o organismo passa a produzir a noradrenalina, hormônio que intensifica a resposta ao estresse, causando irritação e nervosismo. Importante lembrar que, apesar do desconforto inicial, os sintomas tendem a desaparecer em algumas semanas, dependendo de cada paciente”, esclarece a oncologista.
Alívio – Ao parar de fumar, as mudanças no organismo são observadas rapidamente. Em 24 horas os pulmões já conseguem eliminar o muco e os resíduos da fumaça, melhorando a respiração. Com 48 horas de abstinência, é possível sentir melhor o cheiro e o gosto das comidas. Em duas semanas, a tosse, congestão nasal e fadiga deixam de ser parte da rotina. Já após cinco anos, o risco de ter câncer de pulmão diminui 50%. Encarar o desconforto como passageiro, e comemorar cada dia sem fumar, como uma conquista, são os primeiros passos para uma reabilitação bem-sucedida.